quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Mutação genética 35delG

Surdez Hereditária
Surdez é o defeito sensorial mais frequente em seres humanos, podendo ser causada por fatores ambientais (infecções como sarampo, meningite e rubéola, e uso de certos medicamentos) ou hereditárias (nos quais os defeitos genéticos são passados de uma geração a outra).
No Brasil, estima-se que em cada 1000 crianças nascidas, 4 sofram perda auditiva. Essa frequência é três a quatro vezes maior do que nos países desenvolvidos, isso porque, em países em desenvolvimento como o Brasil, a surdez por causas ambientais é mais frequente. As mais importantes causas de surdez em nosso país são a rubéola materna e a meningite.
Quadro Clínico
A surdez hereditária pode ser classificada como sindrômica quando o indivíduo apresenta, além da perda auditiva, outros sinais ou sintomas, ou não-sindrômica quando o indivíduo afetado apresenta apenas surdez, sem outros problemas ou defeitos.
Muitos genes contribuem para o desenvolvimento e funcionamento normal do ouvido; a existência de vários genes, que quando defeituosos causam a surdez, pode originar quadros clínicos distintos, sindrômicos ou não, e com diferentes padrões de herança.
Quanto à evolução, a surdez pode ser estacionária (quando a perda auditiva não apresenta progressão) ou progressiva (quando a perda auditiva evolui para uma surdez mais grave); pode ser unilateral (se atingir apenas um ouvido) ou bilateral (quando afeta os dois ouvidos); quanto à idade de manifestação, pode ser pré ou pós-lingual (antes ou depois da aquisição da fala, respectivamente); e a gravidade pode ser variável.
Herança da surdez não-sindrômica
A surdez não-sindrômica hereditária pode ser causada por diversos tipos de mutações que resultam, nas famílias, em surdez condicionada por todos os mecanismos de herança: autossômica recessiva, autossômica dominante, ligada ao cromossomo X ou mesmo transmitida maternalmente por herança mitocondrial.
Surdez de herança autossômica recessiva
Para que a surdez se manifeste quando é devida a herança autossômica recessiva, é necessário que o indivíduo afetado herde as duas cópias mutadas do mesmo gene, uma de cada um dos pais.
A cada 10 casos de pessoas com surdez, 8 apresentam herança autossômica recessiva; desses 8, 5 ou 6 têm a mutação mais frequente denominada 35delG, do gene GJB2. Estudos indicaram que a frequência de heterozigotos quanto à mutação 35delG (indivíduos que apresentam uma cópia do gene com a mutação e a outra normal) é elevada na população.
Portanto, os pais de um indivíduo que é detectado como homozigoto (ou seja, recebeu as duas cópias do gene GJB2 com a mutação 35delG), têm uma probabilidade de 25% de passarem a mutação e de terem outra criança com o mesmo defeito. Dada a sua alta frequência na população, a mutação 35delG é a primeira a ser investigada em todos os casos de surdez.
As deficiências auditivas com padrão de herança autossômico recessivo são em sua maioria pré-linguais e estacionárias.
Surdez de herança autossômica dominante
A surdez de herança autossômica dominante é responsável por cerca de 10 a 20% dos casos de surdez hereditária e, até o momento, vários genes e mutações diferentes foram identificados, todas ocorrendo com frequências semelhantes. São conhecidos 13 genes que podem estar relacionados com a causa da surdez com esse tipo de herança.
As deficiências auditivas da herança autossômica dominante são na maioria pós-linguais, aparecendo normalmente após os 20 anos de idade, sendo geralmente progressivas.
Surdez de herança ligada ao X
A surdez de herança ligada ao cromossomo X responde por apenas 2 a 3% de todos os casos hereditários. Apenas 2 genes no cromossomo X foram identificados como sendo causadores de surdez.
Surdez de herança mitocondrial
Dentro de todas as nossas células existem organelas chamadas mitocôndrias, que são responsáveis pela produção de energia. Essas estruturas possuem DNA e são transmitidas à prole (meninos e meninas) apenas pelo lado materno. Mutações em dois dos genes mitocondriais já foram identificadas como sendo causadoras de surdez hereditária.
Acreditava-se até pouco tempo que a herança mitocondrial contribuísse com no máximo 1% dos casos de surdez hereditária. Nos últimos anos, têm sido detectados vários casos de deficiência auditiva associados a mutações no DNA mitocondrial.
Já se sabe, há muito tempo, que determinados antibióticos (aminoglicosídeos) podem causar surdez. Foi observado que o padrão de herança dos casos de surdez causados pelo uso desses medicamentos era compatível com herança mitocondrial.
O estudo do DNA mitocondrial de diversos indivíduos com surdez causada pelo uso de aminoglicosídeos revelou a mutação A1555G, no gene 12SrRNA. Essa parece ser a mutação mais freqüente.
A identificação molecular da mutação A1555G em um indivíduo surdo indica que outros indivíduos da mesma família, que podem possuir a mesma mutação, estão em risco de perder a audição em virtude do uso de aminoglicosídeos ou por outros fatores ambientais. Portanto, a presença dessa mutação pode ser a causa de uma maior susceptibilidade ao desenvolvimento da surdez devido ao uso de aminoglicosídeos.
Aconselhamento Genético
O Centro de Estudos do Genoma Humano oferece rotineiramente aconselhamento genético da surdez e testes de DNA que permitem identificar as mutações 35delG (do gene GJB2) e A1555G (do DNA mitocondrial). Nossas pesquisas estão permitindo também desenvolver novos testes de DNA para investigar mutações que têm sido descritas mais recentemente, tanto no DNA mitocondrial como no dos cromossomos.

Fonte: http://genoma.ib.usp.br/pesquisas/doencas_surdez-hereditaria.php